sexta-feira, 3 de abril de 2009

O tio da América

Há dois ou três dias a esta parte que ando a pensar na morte. Não na minha que graças a Deus ainda penso estar por cá mais algum tempo, mas na morte dos outros, daqueles que nos são próximos ou então próximos de alguém que conhecemos bem.

Soube que um tio do meu marido, agora com 82 anos, está a morrer com um cancro.

Curiosamente ele nasceu na casa onde agora vivo e talvez por isso esta situação me esteja a fazer pensar um pouco mais no assunto. Como a nossa vida é breve em relação às coisas que possuímos.

A divisão da casa em que neste momento estou aqui a partilhar este pensamento convosco é o meu “escritório”. É uma divisão onde o computador partilha o seu espaço com os lápis de colorir do meu filho e a tábua de passar a ferro. Continua a ser uma divisão sem janelas, o chamado, por várias gerações de “quarto escuro”. Outrora … há 82 anos atrás … um quarto de uma criança que aqui se fez homem e emigrou.

Não posso deixar de transcrever, à laia de homenagem ao tio da América, uma passagem de Agustina Bessa-Luis em “A Sibila”:

… muito depois da morte, enquanto uma impressão da nossa mão restar na superfície de um objecto que uma vez se tocou, o tempo ainda nos pertence

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